morre-se todos os dias, vive-se entre os despojos de guerra

Haverá outros lugares emocionais que nos dão alegria e que nos parecem termos sido felizes, ou estarmos a fazer bem: quer dizer, os outros gostam de nós e do que fazemos. Entre o que os outros acham e a qualidade do que fazemos pode haver uma enorme diferença, sendo que a ideia da “sabedoria da multidão”, essa avaliação última, nos derrota sempre: quem és para pôr em causa essa última voz. Tem sido sempre assim, apesar do esforço, há essa arrasto, essa réstea de insatisfação dos outros pelo que és. Apesar das boas intenções e da suprema, entre as melhores, vontade. Certo, certo é que a vida escorre assim e não de outra maneira. Volta e meia andas entre os corpos, vozes e restos do que és e do que te aconteceu. Lamentas. “Lamentarias” é a gasolina da vida e se estás só é porque estás vivo. Habitua-te! E lá seguimos em frente, que não é assim tão positivo, é mais para o inevitável porque isto roda, não pára nunca, e segues mesmo com essas ruínas no teu passado, que te tiram o sono e te fazem escrever isto. Habitua-te. Sim, já estou habituado, mas se a vida vai sendo cada vez mais despojos e se as forças diminuem, não há como limpar este esterco todo. deixa ficar. Passa ao lado, lamenta, segue. Olha para o lado positivo da vida. Bem sei. Mas este lado, esta inundação sufocante, negra, quase bréu, vai como um rio subterrâneo. Habitua-te.

comum5

mais só

Que vida quiseras e que vida seria, que vida foi e que agora vivemos, são tempos dramaticamente diferente, insuspeitamente diferentes de outrora. Quem poderia dizer que agora estarias aqui com a alegria no coração? Aqui onde já passaste com as lágrimas por dentro e por fora. Eu posso dizer sim, que já aqui passei com uma faca nas mãos para cortar a minha vida pela raiz. Observo. Observo vocês: observo tu; observo-te que me lês. Observo o outro que encontrei encostado a uma parede, um homem culto pensando envolto no seu silêncio. Só, mais só que pensamos. E tu também, és mais só do que pensas.

O Fraco, 7ª parte

livro

havemos de nos encontrar no silêncio de um livro, escrito, por acaso por mim, com o único intuito de dizer que humanos somos, compaixão temos, e tu como eu, sós estamos, e permanecemos, mesmo depois de o teres lido, só que desta vez saberás que existe outro, tão só como tu.